Parem as máquinas. Parem as máquinas! Está tudo saindo errado.
O que houve? Qual é o problema?
A máquina está fazendo errado. Nós colocamos ‘não’, mas está saindo ‘sim’.
Hum… Acho que é um problema de máquina viciada. Durante muitos anos só saiu ‘sim’, agora ela não consegue colocar ‘não’.
Precisamos dar um jeito nisso.
Olha, não sei se vai ser possível. O senhor deve compreender que mudar de ‘sim’ para ‘não’ é muito radical.
Então que ela pelo menos coloque um ‘talvez’.
Isso não dá. ‘Talvez’ está proibido. É ‘sim’ ou ‘não’. Não existe meio termo, não é permitido ficar no muro, não se pode avaliar os dois lados. Ou é um ou é outro. Até porque com ‘talvez’ o senhor será atacado pelos dois lados.
Com mais cores será que a gente não consegue colocar um ‘talvez’?
Nunca. As cores foram proibidas. Somente duas foram homologadas e não podem ser misturadas. Ou se coloca uma ou se coloca outra.
Mas assim não é possível. A máquina faz o que ela quer. Estou me sentindo refém da máquina.
Todos sempre fomos reféns da máquina. Digo para o senhor, ela só colocaria ‘não’ se estivesse com defeito.
Já sei. Vamos quebrar a máquina e ver se ela coloca ‘não’.
Que bobagem! Não faça isso! O senhor não pode quebrar a máquina. Quebrar a máquina é atacar tudo o que todos acreditam.
Mas quem disso isso?
A própria máquina. Sempre que ela funciona, a sua única voz e única vontade se coloca como a voz de todos e a vontade de todos. Querer o que a máquina quer é querer o que todos querem. Por isso, quebrar a máquina é destruir a si próprio.
Então, eu tenho que conseguir outra máquina para colocar ‘não’.
Não adianta arranjar outra máquina, pois ela já vem de fábrica com o ‘sim’.
E se nós convencêssemos as pessoas de que a máquina está errada? Assim, conseguiríamos mudar a máquina de ‘sim’ para ‘não’.
Mas como o senhor vai fazer isso? Somente a máquina é capaz de convencer as pessoas. E a máquina não fará com que se voltem contra ela. Não há como propor algo diferente do que a máquina quer, pois a máquina é a máquina… é tudo! Quem acredita na máquina nunca pensa que ela deveria fazer algo diferente do que ela faz.
Então… o que eu posso fazer? Como era antes da máquina?
Não sei. A máquina não mostra como era antes dela. Alguns acreditam que a máquina sempre esteve aqui. Mas é possível que isso seja o que a própria máquina deseja que acreditem. E não adianta buscar respostas assim nela, pois o senhor nunca vai conseguir obter nada que revele as verdadeiras intenções da máquina.
A máquina não é a única coisa que existe no mundo. Vou buscar uma resposta fora da máquina. Não é possível que lá fora não exista um ‘não’ ou, pelo menos, um ‘talvez’.
Nada fora da máquina tem credibilidade. Ela já convenceu todo mundo disso. Nem perca o seu tempo. Aliás, muitos já foram convencidos que a máquina é a única coisa que existe… o resto não existe.
Se não podemos quebrar a máquina ou procurar um ‘não’ fora da máquina, podemos lentamente sabotar a máquina. Continuamos colocando ‘sim’, mas vamos aos poucos trocando uma ou outra peça que possamos contrabandear e mudar a máquina por dentro até que, mesmo sem que ela perceba, comece a colocar ‘não’.
Não dá para trocar as peças da máquina. Todas as peças de reposição são produzidas pela própria máquina e já vêm auditadas para garantir apenas o ‘sim’.
Acho que eu não posso fazer nada…
Pelo visto o senhor foi vencido pela máquina. Se convencer que não pode fazer nada é o que a máquina faz com pessoas como o senhor. Não acredite em tudo o que a máquina lhe diz. Nem mesmo que você não deve acreditar em tudo que ela lhe diz…
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