Confiança
O Japão é um país onde não há “jeitinho”. As regras foram feitas para serem seguidas e o bem coletivo está acima do seu próprio. O oposto do Brasil. Aqui, a maioria tenta burlar as regras e é cada um por si. Para muitos, tirar vantagem dos outros é uma regra, no outro lado do mundo é uma vergonha.
No Japão, paga-se o ônibus no desembarque. É só colocar as moedas em uma caixinha de acrílico que fica ao lado do motorista. Não há catraca. Durante dias fiquei imaginando como a máquina conta as moedas para saber se o valor está certo. Concluí que a máquina não conta, pois se espera que você pague o valor correto. Um sistema assim no Brasil levaria à falência qualquer empresa de transporte coletivo, mas no jeito japonês de pensar, não faz sentido depositar um valor menor que o da tarifa e prejudicar o sistema utilizado por todos.
Em Kyoto, no local onde fiquei hospedado, cada um preparava o seu próprio café da manhã. Era só encher a caneca de água quente, utilizar o café solúvel, pegar o pão no armário e a margarina na geladeira. Um café da manhã simples, mas gostoso. Uma caixinha de papelão pedia apenas uma contribuição de 300 ienes – cerca de R$ 6. Ninguém vai fiscalizar se você pagou ou não, mas qual o sentido em não pagar? Mesmo sem ter nenhum aviso, também se espera que você lave, seque e guarda a louça que utilizou.
No Mercado Omicho – o Mercado Municipal da cidade de Kanazawa – uma espécie de biombo atraiu minha atenção. Diversos cartões desenhados a mão estavam afixados nele. Em um papelão estava escrito “self-service”, o famoso sirva-se a vontade utilizado nos restaurantes brasileiros. Uma caixa de leite pendurada pedia que se depositasse 200 ienes – cerca de R$ 4 – por cartão levado. Olhei para todos os lados e não havia ninguém cuidando do biombo. No mesmo momento pensei: “se fosse no Brasil, o artista ficaria surpreso ao ver que todos os cartões foram levados, quase ninguém pagou e, provavelmente, o biombo estaria vandalizado”.
Tentei explicar este tipo de pensamento ao meu amigo japonês. Ele não conseguiu entender. Pois no sistema brasileiro todos perdem e só o ladrão de cartão ganha.
Comentário: Me chamou a atenção em dois parques que visitei no Japão, nos quais se paga entrada, que não há catraca, portões ou pessoa para conferir o bilhete. Qualquer um pode entrar direto, sem comprar a entrada no quiosque. Isso me fez pensar que no Brasil se gasta muito dinheiro em sistemas de vigilância e funcionários só para fazer com que as pessoas cumpram as regras.
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