Dizem que sempre, de tempos em tempos, a humanidade dá um grande salto evolutivo. Depois da Revolução Industrial, da Era dos Computadores e da Revolução dos Robôs houve o que hoje é conhecido como a Era da Carne.

O ano foi 2099, o mundialmente conhecido Doutor Albert Deschaumes anunciou o maior avanço de todos os tempos da ciência. Ele descobriu como converter as informações do nosso cérebro em dados e depois transferi-los para o cérebro mecânico de um autômato. O sonho de todos os humanos, a vida eterna, se tornaria realidade. O próprio doutor foi o primeiro a mostrar que o procedimento era confiável. Ele transferiu sua mente para um autômato feito a sua imagem e semelhança. Depois disso, milhões seguiram o mesmo caminho.

Primeiramente esse período foi chamado de Idade da Inteligência Artificial, somente mais de um século depois o nome Era da Carne se consagraria. O que milhões de pessoas descobriram com o tempo, foi que a ciência ainda não era avançada o suficiente para lhes dar algumas coisas básicas, como sentir frio e calor, ou ainda o toque em seus lábios, o coração acelerado e o frio na barriga. Agora, ter um filho não dependia mais de você, e sim do sêmem ou o óvulo que você deixou guardado antes de se tornar um autômato. Muitos se questionaram se essa vida eterna não era, na verdade, uma prisão eterna.

Alguns autômatos se auto-destruíram, outros acreditaram que eram super-seres capazes de qualquer coisa. Uma espécie de demência geral tomou conta da sociedade. Os cientistas tentaram durante décadas descobrir como colocar o cérebro autômato em um humano, sempre com o Doutor Albert Deschaumes à frente das pesquisas. Muitos humanos, com medo do caos que estava se instalando no planeta, tentavam fugir para o único país que havia proibido a Idade da Inteligência Artificial. Em 2184, o presidente da República Federativa Turco-Otomana disse, com muito pesar, que seu país não comportaria tantos refugiados. O Oriente Médio fechou suas fronteiras. No ano seguinte, os Estados Unidos do Norte foi o primeiro país a criar uma lei exigindo a desativação de todos os A.I. (Inteligência Artificial). Outros países como Japão, China, Índia e a União Norte-Africana, decretaram o fim da tecnologia, advertindo que ela amaldiçoou o povo, e que a população deveria se voltar para as velhas tradições.

Com o tempo, outros países foram abandonando a tecnologia. Ninguém regrediu à Idade da Pedra, porém, o importante era o ser humano. Em 2204, em um pronunciamento mundial, o Doutor Albert Deschaumes pediu desculpas pela sua descoberta e anunciou que as pesquisas das últimas décadas, para devolver os autômatos para corpos humanos, tinham sido inconclusas. Ao final, ele sugeriu que os autômatos ainda ativos fizessem o mesmo que ele. Deschaumes se auto-destruiu e, com sua morte, com sua destruição, chegava ao fim a Era da Carne. A era no qual os seres humanos ansiaram, como nunca, serem apenas seres humanos e viverem uma vida finita em seus simples corpos de carne.